Condições de trabalho

A ausência de equipamentos de proteção individual e apoio psicológico são problemas já destacados pelos meios de comunicação e pesquisadores da área da saúde. Essas ausências, somadas a um sistema de saúde já fragilizado, deixaram esses profissionais em uma situação muito difícil: ao mesmo tempo em que precisavam cuidar da população infectada, estavam em risco constante de contrair a doença, lidando com o medo de perder seus colegas de trabalho, bem como a própria vida, e de transmitir a Covid-19 para seus familiares.

Para além da falta de condições seguras e apoio individual aos trabalhadores da saúde na linha de frente, o rastreamento de seus locais de moradia e percursos na cidade tampouco foi feito. Pelo contrário, a ausência de estratégias territorializadas e a compreensão do isolamento social como se fosse uma escolha individual, já apontadas por nós como problemáticas na gestão da crise promovida pelo coronavírus, prejudicou grande parte desses profissionais. A distribuição temporal dos casos confirmados de Covid-19 aponta como, nos primeiros meses de pandemia (fevereiro a abril), esse grupo profissional já compunha uma parte significativa dos casos totais no município. Este teria sido o melhor momento para implementar políticas setorizadas e localizadas para esses trabalhadores.

A hipótese que levantamos aqui é que estaríamos em condições muito mais favoráveis se desde o início da pandemia os profissionais de saúde tivessem condições seguras de trabalho, somadas a uma estratégia de inteligência espacial com o mapeamento dos percursos e de condições de moradia desses trabalhadores, compreendendo além do local de moradia, quantas pessoas vivem em suas casas e se nestas havia ou não condições de isolamento. Isso só seria possível com uma articulação entre esferas de governo e uma política territorializada e multi-escalar de combate a pandemia – que não ocorreu. Além de possibilidades ainda de implantá-la – afinal a pandemia não acabou! – podemos extrair desta avaliação aprendizados para pensar e reivindicar políticas públicas no futuro.

 

*Aluízio Marino é doutorando em Planejamento e Gestão do Território (UFABC) e pesquisador do LabCidade; Gisele Brito é mestranda na FAU-USP e pesquisadora do LabCidade; Pedro Mendonça é graduando em Arquitetura e Urbanismo na FAU-USP e pesquisador do LabCidade; Raquel Rolnik é professora da FAU-USP e coordenadora do LabCidade.