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Crianças em férias: roteiros da São Paulo que tem muito a ensinar

Raquel Rolnik

19/07/2018 10h59

As férias de julho são uma oportunidade deliciosa de ocupar São Paulo com as crianças. E que tal incluir no roteiro a visita a prédios históricos, muito representativos da cidade, que se transformaram em museus e instituições culturais e mantêm uma programação especial para os pequenos e pequenas? Trago três dicas:

O Museu Catavento (Av. Mercúrio, s/n, Brás), que abriu em 2009, é interativo, explora as ciências, e ocupa o Palácio das Indústrias. É um projeto do arquiteto Ramos de Azevedo, em colaboração com outros arquitetos. Foi inaugurado em 1924 para revitalizar toda a área da várzea do Carmo, que infelizmente hoje é onde se cruzam um monte de viadutos, ali bem próximo do Mercado Municipal. Esse prédio nasceu para ser um espaço da exposição do progresso de São Paulo e da indústria, foi sede da Assembleia Legislativa de 1947 a 1968, e nos anos 1970 ocupado por repartições da Secretaria de Segurança Pública. Em 1992, em um projeto da Lina Bo Bardi, virou a sede da Prefeitura, isso até 2004. Assim, além do conteúdo sensacional, a visita também proporciona uma viagem por toda a história do edifício.

A segunda sugestão é o Museu da Imigração (Rua Visconde de Parnaíba, 1316, próximo do metrô Brás). Ele ocupa o que foi a antiga hospedaria construída no final do século 19 para acolher os imigrantes que chegavam para trabalhar na lavoura do café, e que só fechou no final dos anos 1970, quando um último grupo de coreanos chegou. O museu conta não apenas a história oficial dos imigrantes europeus que chegaram, mas também dos migrantes vindos de Minas e da região Nordeste a partir dos anos 1930.

A terceira dica é o Instituto Butantã, que foi criado no finalzinho do século 19 para desenvolver vacinas, diante de um surto de peste bubônica que atingiu o Brasil a partir do Porto de Santos. Fica numa antiga fazenda que foi desapropriada. Desde então ele se tornou uma referência na área da saúde pública, produzindo não somente vacinas, mas soros que são utilizados para o tratamento de intoxicações. O prédio leva o nome de Vital Brasil, que dirigiu por muitos anos o Instituto. Além do próprio edifício, há três museus, e talvez o mais interessante deles para as crianças seja o Instituto Biológico, porque abriga as cobras e animais peçonhentos, mas também o Museu de Microbiologia, que é uma intervenção do arquiteto paulista Marcio Kogan. Do lado de fora há também um jardim muito bonito, usado inclusive para piqueniques nos finais de semana, que foi todo renovado depois de um grande incêndio que o prédio sofreu em 2010.

Embora a programação dos três espaços – Museu Catavento, Museu da Imigração, Instituto Butantã – seja voltada para as crianças neste mês de julho, os pais também podem aproveitar bastante, porque vão encontrar referências sobre este momento muito importante na história de São Paulo, quando a cidade engatou num projeto de modernização, industrialização e crescimento que marcou e marca, até hoje, o espaço e o ethos da cidade.

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Sobre a autora

Raquel Rolnik é arquiteta e urbanista, é professora titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Foi diretora de planejamento da Secretaria Municipal de Planejamento de São Paulo(1989-92), Secretária Nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades (2003-07) entre outras atividades ligadas ao setor público. De 2008 a 2014 foi relatora especial da ONU para o Direito à Moradia Adequada. Atuou como colunista de urbanismo da Rádio CBN-SP, Band News FM e Rádio Nacional, e do jornal Folha de S.Paulo, mantendo hoje coluna na Rádio USP e em sua página Raquel Rolnik. É autora, entre outros, de “A cidade e a lei: legislação, política urbana e territórios na cidade de São Paulo” (Studio Nobel, 1997), “Guerra dos lugares: a colonização da terra e da moradia na era das finanças (Boitempo, 2016) e “Territórios em Conflito - São Paulo: espaço, história e política” (Editora três estrelas, 2017).